Nosso vizinho, o Mother Fucker!

Nada como uma boa vizinhança! Fazer amizade com os vizinhos é uma coisa fundamental na vida de quem mora longe. A gente nunca sabe quando vai precisar deles. Ou eles de nós. Até o aviso nas portas do prédio aconselha que façamos amizade e tomemos conhecimento de quem são nossos vizinhos, a fim de  minimizar a onda de roubos que aconteceu em maio/junho aqui no Rôla-rôla. Calma! Não entendam mal! Nós moramos na Roland Holstlaan e o apelido carinhoso para a rua é Rôla-rôla.

Pois bem, ledo engano nosso achar que faríamos amizade fácil por aqui, que contagiaríamos todos com a nossa desenvoltura, charme, elegância e simpatia, que os nossos vizinhos seriam estudantes de mestrado ou doutorado ou até mesmo pesquisadores convidados pela universidade e que estariam na mesma situação que nós: vindos de outro país, sem conhecidos e sem amigos por perto. Pois é, ledo engano!

As pessoas aqui são, no mínimo, estranhas. Nos encontramos nas escadas, no elevador, no bike shed e nas caixas de correio. Só. Um bom dia às vezes tem como resposta um olhar desviado para o chão (no próprio estilo "Ai, acho que perdi minhas lentes de contato!"). Vou apenas relatar o que se passa aqui, sem nenhuma forma de preconceito. Vou citar etnias apenas por pura e simples observação das diferentes culturas que moram neste zoológico, digo, edifício.

Tem gente de toda raça: Holandeses, Brasileiros (nós), Portugueses, Argentinos (eu vi alguém com a camisa da Argentina na copa), Espanhóis, Americanos, Chineses, Árabes... enfim, uma miscelânia cultural. Digo isso porque já ouvi pessoas conversando em diferentes idiomas e pude identificar alguns poucos. Além das caras, lógico. Você nunca vai olhar para um chinês e dizer que acha que ele é africano, obviamente.

Mas a questão é: moramos no apartamento da "esquina". Atravessamos o corredor inteiro pra chegar no último apartamento. Então, só temos um vizinho! Pensamos que seria mole fazer amizade com ele, afinal, teríamos somente a metade do trabalho. Nunca vimos a cara do indivíduo. E morremos de medo dele. Vou explicar o porquê:

Em todos os apartamentos existem cortinas pra manter a privacidade. No apartamento desse cidadão (nosso vizinho), além da cortina tradicional, eu notei que ele instalou uma tela, que impede qualquer visualização da parte interna do apartamento. Eu não sou descarada de ficar olhando o que acontece nos apartamentos ao percorrer o longo corredor pra chegar em casa, mas de vez em quando a gente olha, né? A vista escapa, sabe como é... você acaba vendo um pedacinho de perna de uma vizinha, ou o gato do outro vizinho... esse tipo de coisa. Sim, é proibido ter animais de estimação aqui no prédio. Mas tudo bem, eu não sou dedo-duro, apesar de não ser muito fã de gatos.

Voltando ao assunto, esse nosso vizinho (olha que sorte) deve ser nada mais nada menos do que portador da Síndrome de Tourette, popularmente conhecida como Síndrome do palavrão. É que de repente, do nada, nas horas mais variadas do dia, eu escuto uma enxurrada de gritos com palavrões, e repetidamente ele expressa seu ódio ou frustração (eu nunca saberei) com música para os meus ouvidos: "Fuck you, motherfucker!" . "Fuck you, motherfucker!". Pausa... e mais "Fuck you, motherfucker!"

No começo eu achei que era a TV. Depois fiquei achando que ele era um cantor americano de RAP. Mas agora tenho certeza de que ele é louco mesmo. O mais curioso é que a gente nunca escuta a outra voz, a voz de quem "supostamente" estaria discutindo com ele. Aí você me diz: Pode ser pelo telefone! É verdade, pode ser pelo telefone. Mas que cidadão se daria ao trabalho de ligar para uma criatura das trevas dessa e ouvir o que eu escuto através da parede no ouvido, coladinho ao telefone? É amor demais pra mim...

Nunca vimos a cara do tal vizinho, mas rola um certo terrorismo da entrada do prédio até chegar ao apartamento. Ficamos olhando os tipos estranhos ao nosso lado, especulando e dizendo baixinho, um pro outro: Será que esse é o Motherfucker?

Nunca vimos o tal vizinho chegar, nem sair na porta, nem colocar uma meia pra secar na varanda.... E pensando bem, nem queremos ver!